Na minha modesta opinião
Nélson Rodrigues é o maior cronista de futebol de todos os tempos. E era genial mesmo sendo parcial. Na verdade, acho que era genial justamente por ser parcial. Nunca escondeu seu amor pelo
Fluminense.
De sua imaginação brotaram personagens que ainda hoje povoam o folclore do futebol brasileiro. Os mais conhecidos sem dúvida são o
Gravatinha, que vem do além para prestigiar as vitórias tricolores, e o
Sobrenatural de Almeida, sempre disposto a mudar a sorte de uma partida lançando mão do imponderável.
Mas não é deles que eu quero falar. Ontem, após a vitória do
Fluminense, fui dormir e sonhei com outro personagem de
Nélson Rodrigues: o
Profeta. Sentado no meio-fio, vestido com seus trapos, ele coçava suas sarnas com um cartão telefônico em frente ao
Supermercado Princesa da
Rua das Laranjeiras, na altura da
Rua General Glicério.
Profeta: Incrédulo! Homem de pouca fé!
Eu: É comigo?
Profeta: Sim. Por que não acredita?
Eu: Em quê?
Profeta: Você sabe ...
Eu: São cinco pontos de diferença para o líder e apenas duas rodadas a disputar.
Profeta: Pois eu digo, o
Fluminense será o campeão brasileiro de 2011.
Eu: Mas como? Se não tivéssemos perdido para o
América em casa ...
Profeta: Fred está iluminado,
Deco tem lembrado
Gérson. O
Flu ganhará os dois clássicos
e o
Corinthians vai afinar. Perderá para o
Figueirense e empatará com o
Palmeiras.
Eu: Tem certeza?
Profeta: Não me chamam de profeta
por acaso.
Fluminense bicampeão brasileiro!
Eu: O 583 está vindo, até mais.
Entrei no ônibus e de lá acenei para o
Profeta, que a esta altura já havia atravessado a rua para jogar no bicho. Enquanto eu me afastava ele efusivamente gritou:
Fluminense campeão brasileiro de 2011!
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Já estava escrito há seis mil anos antes do nada. |